Casa Azul: uma memória necessária !
Figura 1: Casa Azul em Marabá-PA.
Fonte: Acervo pessoal.
Você sabia que nesta edificação “simpática” em tom azul foram praticados mais de 30 assassinatos? Este prédio localizado às margens da Rodovia Transamazônica, no núcleo Cidade Nova, foi utilizado como centro clandestino de tortura e morte de guerrilheiros, camponeses e outras pessoas que faziam oposição ao regime militar e se envolveram na chamada Guerrilha do Araguaia.
Legalmente, naquele período de torturas, assassinatos e prisões (de 1972 e 1975) a Casa Azul era a sede do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER), entretanto, no relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV), produzido em 2014, a Casa Azul é definida como um “centro de prisão clandestino utilizado pelo Centro de Informações do Exército (CIE) como um Centro de Informações e Triagem (CIT)”. Atualmente as instalações da Casa Azul são ocupadas pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT).
A sequência de tortura elaborada pelo Centro de Informações do Exército (CIE) e registrada em um manual intitulado “Contraguerrilha na Selva” incluía no ato da prisão, um interrogatório obrigatório e, nesse momento, espancamentos, perfurações com baionetas e o arraste do interrogado pelas matas. Após isso, na base distrital era realizada uma segunda inquirição e tortura que poderia culminar na morte do inquerido.
Alguns ambientes do complexo da Casa Azul utilizadas pelo CIE, inclusive a casa em “L”, apontada como lugar central das torturas, ainda resistem à ação do tempo, embora pouco preservados. Um fato tenebroso é que os prédios chegaram a ser edificados em cima de sepultamentos.
Figura 2: Casa em "L" do complexo Casa Azul em Marabá-PA.
Fonte: Acervo pessoal.
Justamente com o “objetivo preservar um patrimônio material da/para a memória coletiva dessa região da Amazônia e do Brasil” a Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) por meio Grupo de Trabalho Casa Azul, instituído pela Reitoria em 2015, está trabalhando com o intuito de dar prosseguimento à petição de solicitação de tombamento da Casa Azul junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN.
Apesar de nos remeter a memórias tristes, a Casa Azul possibilita a “construção de diversas significações acerca da Guerrilha e do período em que ela ocorrera” bem como serve de alerta para um período antidemocrático de nossa história política recente, o da Ditadura Militar. Assim, tornar essa edificação um espaço da memória das violações e do reconhecimento à luta e resistência daqueles que enfrentaram violações graves é um tributo às” lutas de resistência do povo da região e, com isso, espaço importante para a formação das novas gerações”.
Texto: Andressa da Silva.
Figuras: Andressa da Silva
Referências
LUIZ, J. M.; REIS, N. F. I.; SILVA, I. S. da. A ditadura e os rastros da repressão no sudeste paraense: desvelando memórias sobre a Casa Azul. Sæculum – Revista de História, [S. l.], v. 39, n. 39, p. 83–102, 2018. DOI: 10.22478/ufpb.2317-6725.2018v39n39.41123. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/index.php/srh/article/view/41123. Acesso em: 1 dez. 2021.
CENTRO de Tortura Casa Azul - Marabá /Pa. Marabá: Coinspiração Amazônica, 2014. (4 min.), son., color. Publicado do YouTube. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=EwkHfyFZ-FQ. Acesso em: 30 nov. 2021.
MAIS, Saiba. Os crimes cometidos por Major Curió, torturador recebido por Bolsonaro no Planalto. 2020. Disponível em: https://www.saibamais.jor.br/os-crimes-cometidos-por-major-curio-torturador-recebido-por-bolsonaro-no-planalto/. Acesso em: 01 dez. 2021.
UNIFESSPA. Tombamento: Relatório sobre valor histórico-cultural da Casa Azul é apresentado pela Unifesspa. 2017. Disponível em: https://www.unifesspa.edu.br/index.php/noticias/1530-unifesspa-apresenta-estudo-sobre-casa-azul-e-defende-tombamento-para-preservar-memoria-da-guerrilha-do-araguaia. Acesso em: 01 dez. 2021.
A edificação é um símbolo de como uma ditadura leva a tudo tipo de violações. Consegui conhecer Berlin, onde se guardam muitas memorias das atrocidades da segunda guerra mundial e os campos de concentração Nazi. Esta postagem me lembra de como alguns cenários, mesmo sendo tristes, ajudam a conservar as memorias e ajudar as novas gerações de não repetir este tipo de erros.
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